Quando adotamos um posicionamento no qual compreendemos que a leitura e a escrita são objetos que se constituem a partir da sociedade que nos cerca, podemos comprrender também que a criança passa por muitas fases antes de chegar à representação alfabética, tanto da leitura quanto da escrita e o que, muitas vezes, parecem ser letras aleatórias, se formos capazes de analisá-las partindo dessa perspectiva veremos que muita coisa faz sentido. Daí se da a grande importância do professor ser um profundo conhecedor de tais fases, a fim de planejear adequadamente atividades que façam o aluno evoluir e atingir a representação alfbética da linguagem.
A criança em seu processo de alfabetização enfrenta muitos problemas de classificação na tentativa de compreender a representação escrita das palavras. Incialmente, esse problema restringe-se à diferenciação entre letras e números e entre diferentes representções gráficas de uma mesma letra, mais tarde quando a criança já tem essa consciência, novos problemas de classificação se estabelecem, como por exemplo, diferenciar os suportes de textos, as carcterísticas e as finalidades de cada um.
a problemática principal que se colca para a criança em processo de alfabetização é a relação entre o todo e as partes, que se cosnstitui em objeto de estudo de ambos os textos, mas principalmente do primeiro. Esse conflito se dá a partir do momento em que a criança considera que a escrita é composta de partes e ainda quando ela já domina a chamada "hipótese da quantidade mínima", já explicitada na postagem anterior. Essa relação é complexa e bastante instável para as crianças e pode se dar de diferntes formas quando a criança faz tentativas de leitura e escrita de textos ou palavras.
Quanto à "hipótese da quantidade mínima" posso afirmar que ela realmente se dá com as crianças na faixa etária de 4 a 6 anos. Um bom exemplo disso é uma situação que ocorreu com minha aluna Emily de 4 anos, quando eu solicitei que a mesma escrevesse seu nome sem utilizar a ficha como auxílio, ou seja, livremente. Emiliy colocou algumas letras que lembrava como "E-I-L" e depois completou com letras quaisquer aleatórias até que chegasse ao final da linha horizontal da folha.
Outra ponto de grande relevância adotado no texto é a questão da tematização, abordada por Jean Piaget. A tematização é um conceito muito importante a ser adquirido pelas crianças no processo de alfabetização, ainda que elas não tenham consciência disso. Trata-se da apropriação de um conhecimento por parte do indíviduo ao qual tal informação tenha sido apresentada. Por exemplo, quando fazemos a leitura de um texto acadêmico e nos apropriamos das informções nele apresentadas e passamos a utilizá-las em nosso cotidiano ou a tê-la como bagagem a ser aproveitada quando houver necessidade, é porque tematizamos aqueles conhecimentos.
Na construção das hipóteses de escrita a criança passa por três fases maiores, que são:
- fase pré-silábica;
- fase silábica;
- fase alfabética
Quando a criança está na hipótese silábica da escrita, que é uma hipótese que sucede a pré-silábica, ela costuma atribuir uma letra para cada sílaba, no início ela atribui qualquer letra a qualquer sílba, mas com o tempo ela passa a atribuir um valor fonético correto pra cada sílaba, seja esse valor com ênfase numa vogal ou numa consoante da sílaba. Enfim, quando consegue assimilar todos os esquemas da fase silábica, atinge a escrita alfabética.
Nos focaremos agora nas interpretações das crianças acerca dos textos escritos com os quais se deparam em seu processo de alfabetização e de aquisição da leitura. É válido destacar que os processos de aquisição da leitura e da escrita são distintos e nem sempre se dão de maneira coordenada.
A idéia inicial da criança na leitura de um texto é a de que as letras sempre representam o nome de um objeto. Um bom exemplo disso, ocorreu em uma situação em minha sala de aula: meu aluno João Pedro, de 5 anos, costuma afirmar que já sabe ler. Certo dia, diante de um cartaz ilustrado com a figura da branca de neve e os sete anões, ele me disse: "-Eu sei o que está escrito ali!", eu perguntei "-E o que é que está escrito?", ele afirmou com toda convicção: "-Branca de neve", mas na verdade o que estava escrito ao lado do desenho era "PARABÉNS", eu expliquei a situação à ele, que confesso ter ficado um pouco decepcionado, disse que branca de neve é mais de uma palavra e que começa com "B" e não com "P" como "PARABÉNS". Com isso, podemos perceber que para a criança o significado do texto escrito depende inteiramente do contexto no qual este esteja inserido. Essa hipótese é conhecida como a "hipótese do nome". Porém, deparando-se com situações como esta vivenciada por meu aluno João Pedro, as crianças passam a ter em mente um novo posicionamento, que refere-se ao que está escrito num texto nem sempre é considerado o que pode ser lido, ou seja as crianças acham que está escrito uma coisa, mas que podemos ler outra.
Dentro dessa "hipótese do nome", a criança fará diferentes relações entre o contexto e o texto, sendo estas:
- o texto escrito depende inteiramente do contexto, na qual havendo mudanças no contexto o texto também muda e se a criança não conseguir interpretar o contexto, também não haverá interpretação para o texto;
- se inicialmente houver uma relação entre o contexto e o texto, a interpretação do texto poderá ser mantida, ainda que o contexto seja modificado, por exemplo: mostra-se afigura de um abacaxi e coloca-se uma palavra ao lado, a criança dirá que ali está escrito "ABACAXI", mas se levarmos a mesma palavra para colocar ao lado da figura de uma maçã, ela continuará afirmando que ali está escrito "ABACAXI". Mas isso, ocorre num curto intervalo de tempo, pois se demorarmos a levar a palavra que representa "ABACAXI" para próximo da maçã, a criança provavelmente dará um novo significado a mesma palavra;
- as propriedades, principalmente as quantitativas do texto(quantidades de linhas, de palvaras escritas, de letras da palavra) passam a ser levadas em consideração e modulam as interpretações que são dadas ao texto, que ainda são dependentes do contexto.
Como educadores, devemos considerar a lógica existente em todas as descobertas e conflitos pelos quais as crianças em processo de alfabetização passam.
O vídeo abaixo demonstra a importância dos diagnósticos de escrita para o desenvolvimento do trabalho do professor em sala de aula e mostra na prática alguns pontos abordados nos textos que acabo de fazer a reflexão. Mostra ainda a maneira mais adequada de se propor os diagnósticos. Confiram!!!
Excelente esta reflexão!!! Você faz uma análise bem cuidadosa dos pontos principais do texto e ilustra de forma muito competente com situações da sua prática. Parabéns!!
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